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ENTREVISTA SHELBY DILLON

Atualizado: 16 de ago. de 2019


POR MARTA DE LA PARRA PRIETO

TRADUÇÃO DE INGLÊS PARA PORTUGUÊS POR VANESSA MÚRIAS


Shelby Dillon (Minneapolis, 1994) é uma contadora de histórias firmemente comprometida com arte, feminismo, e narrativas visuais. Constrói histórias através de imagens paradas e em movimento, ou, como ela coloca, sua arte é “ou um frame pausado de um filme ou uma fotografia de movimento, ou os dois”. Como cineasta, possui Bacharelado em Estudos de Cinema pela Wesleyan University, além de outros estudos (como por exemplo Cinema Francês no Programa Yale Abroad, na França) e experiências (como um estágio para, Naomi Ko). Como fotógrafa, estagiou para o fotógrafo premiado Alec Soth. Junto com isso, ela também trabalhou como fotógrafa de making of para o filme em 3D "Cunningham".



GdM: Ao se colocar no mercado das artes, você se identifica tanto como fotógrafa quanto cineasta; no sentido de que você afirma seu trabalho como “imagens paradas e em movimento”, o que define uma e outra, onde convergem, e onde divergem?

SD: Acho que meus trabalhos fotográfico e cinematográfico se comunicam entre si, mas ainda são expressões artísticas diferentes. A maior diferença entre esses dois meios é o fato de que o cinema é uma arte baseada em tempo enquanto a fotografia não é. Nesse sentido, eu olho pros meus filmes como uma séries de fotografias que se prolonga com o tempo, enquanto minhas fotografias são frames pausados de um filme. Algumas das minhas histórias são contadas melhor através da limitação do tempo (fotografia), e outras requerem um alongamento do tempo (cinema).

GdM: Sua fotografia pendula entre urbana e conceitual, e ambas se encontram na cinematografia. Por qual você se apaixonou primeiro e como a outra começou? Como ambas se encontraram? Você se move de uma para a outra ou elas coabitam? E que tipo de dinâmica você articula entre as duas? Vê ambas como algo único ou as entende separadamente?

SD: Cinema foi meu primeiro amor. Sonho em ser cineasta desde que me entendo por gente, literalmente. Não consigo lembrar de uma época em que eu não tenha desejado fazer filmes. Fotografia veio a mim disfarçada de escape criativo enquanto eu estava na faculdade. O programa de cinema da Wesleyan é muito teórico e eu não tive a oportunidade de criar filmes. Então eu fiz algumas aulas de fotografia pra aprender sobre câmeras e ter a chance de criar alguma coisa. No fim das contas, eu amei fotografia. Então mergulhei.




Para mim, meu trabalho com cinema e meu trabalho com fotografia são práticas separadas. Como mencionei anteriormente, histórias diferentes requerem meios diferentes. Eu geralmente trabalho em múltiplos projetos de cinema e fotografia ao mesmo tempo, mas raramente no mesmo dia. A maioria dos dias é focada ou em cinema ou em fotografia, mas em geral os projetos se desenvolvem ao mesmo tempo.



GdM: Parece que narrativas, histórias são vitais para o seu exercício como artista, tanto em cineasta quanto em fotografia. Conte-nos um pouco mais sobre como você aborda narrativas. Quais são suas influências, seus objetivos, e como você formula narrativas e conexões com o público?


SD: Eu amo artes movidas a narrativa em todos os meios. Tenho muito respeito por não-narrativas, mas sempre circulo em volta de histórias. Mas a narrativa toma muitas formas diferentes no meu trabalho. Enquanto meu filme Self Creation é a peça mais avant-guarde que já criei, ainda é muito narrativo — seguimos a personagem principal por um cenário surrealista enquanto ela encontra obstáculos no ambiente. Não há diálogo no filme, mas há um desenvolvimento claro do seu estado emocional e as mudanças que ocorrem nas suas respostas aos mesmos lugares. É possível traçar um início, um meio e um fim, embora a peça seja construída para tocar em loop. Então ainda é possível dizer que Self Creation é um filme fortemente narrativo, mesmo sendo avant-guarde.

Tenho tantas influências que é difícil destilar todos em apenas algumas palavras. Se tratando de cinema, eu diria que sou muito influenciada pela escola europeia de cinema e por filmes clássicos de Hollywood. Desde Asas do Desejo e Hiroshima, Meu Amor a Cantando na Chuva e Gata em Teto de Zinco Quente. Embora eu também seja influenciada pelo cinema japonês (A Mulher da Areia e Yojimbo - O Guarda-Costas são grandes fontes de inspiração pra mim) e por alguns filmes americanos contemporâneos (Encontros e Desencontro e A Última Tentação de Cristo são dois de meus filmes preferidos). Há tantos filmes e cineastas que eu amo. Eu poderia continuar essa lista pra sempre.

GdM: Personagens femininas parecem estar fortemente e continuamente presentes, como em Restock ou Self Creation. Não só personagens femininos mas também narrativas feministas estão presentes em seu repertório, como em sua série de fotografias Ritual. Acho que é certo te chamar de feminista. Primeiramente, gostaria de ouvir mais sobre essas personagens e essas narrativas, e como imagens, narrativas e feminismo são utilizados no seu trabalho.

SD: Minha série de fotografias Ritual na verdade fala diretamente das limitações do olhar masculino ao se colocar no conceito da “musa”. Como a série é feita de auto-retratos, eu criei um lugar de poder onde eu poderia desconstruir imagéticas do corpo feminino que tem sido continuamente exploradas na arte (e além) por séculos. Eu subverti imagens tradicionais da forma feminina vistas pelo olhar masculino, especialmente no cânone ocidental de pinturas. Embuti um arco narrativo que é estruturado pela jornada da personagem central através de um ritual esotérico de imagens, para externar a sua transformação interna de “ela” para a versão dela que o mundo valoriza: seu corpo, não seu ser inteiro.



Se tratando de cinema, todas as minhas personagens principais tem sido femininas porque, como diz o velho ditado, escreva sobre o que você conhece. Histórias centradas em mulheres são as histórias que eu quero contar, pelo menos agora. Acho que minha inclinação natural é contar histórias que tenham verdade. Como minhas histórias são direcionadas por personagens femininas, cada história se torna um exame da verdade dessas personagens e da verdade de suas realidades. Ao examinar essas personagens e suas formas de ser de forma complexa e autêntica, eu tento dar voz personagens femininas que anteriormente não tinham nenhuma. Tantas vezes vemos mulheres representadas de forma unidimensional, ou de forma que se torna uma fantasia masculina. Mulheres são muito mais do que isso, e é por isso que quero contar as histórias que qualquer um pode assistir e se conectar por causa da verdade entranhada na narrativa. Eu não digo verdade como “Ah, isso realmente aconteceu”, digo como o tipo de verdade que se comunica instantaneamente com o espectador.



Eu também faço um esforço consciente de popular minhas equipes com o máximo de cineastas negras, indígenas, não-brancas, e que se identificam como mulheres. É incrivelmente importante pra mim como uma mulher artista apoiar e colaborar com outras mulheres artistas e outras minorias, parcialmente porque, de acordo com o relatório anual do teto de celuloide, somente 1% dos filmes americanos de maior arrecadamento tem mulheres e pessoas não brancas em posições de poder nos sets. Estamos todas juntas nisso, e eu ativamente quero apoiar outras mulheres no cinema.

GdM: Enquanto cinema é trabalho em equipe, parece que sua fotografia se alinha mais com práticas na solitude. Estou certa? Como você encara as duas?

SD: Acho que posso ser uma pessoa de extremos, e isso se traduz no meu uso de dualidade em cinema e fotografia. Nesse momento, minha fotografia é muito feita em solitude, ou pelo menos anonimato. Cinema é mais inerentemente colaborativo então eu estou cercada de pessoas no set e trabalhando com elas pra criar minha visão. Acredito que as duas artes me equilibram.

GdM: Pensando na série Ritual, parece que você faz o papel da fotógrafa e da modelo no seu trabalho de fotografia conceitual. Estou errada?

SD: Eu modelo uma parte do meu trabalho, incluindo a série Ritual. Eu não diria que meu lugar natural é na frente das cameras, mas como eu estava fotografando, me senti confortável sendo modelo para mim mesma. Essa série era mais sobre experimentação, então pareceu certo eu modelar já que o processo incluía muitas tentativas e erros.



GdM: Goya, Matisse, Coppola, Dali, Titian, Fellini, Wilder, Caillebotte. Conte-nos mais sobre as suas influências.

SD: Sempre sim para todos os artistas que você mencionou. Você basicamente listou todos os meus preferidos. Além dos homens listados, vou listar as minhas artistas inspiradoras: P.T. Anderson, John Ford, Akira Kurosawa, Ingmar Bergman, Caravaggio, Brassaï, Henri Cartier Bresson, Luigi Ghirri, François Truffaut, Jean-Luc Godard, Nikos Kazantzakis, John Singer Sargent, John Berger, Joseph Campbell. Eu poderia continuar para sempre.

GdM: Eu gostaria de enfatizar suas influências femininas.

SD: Sem dúvidas. Existem tantas. Agnés Varda, Sofia Coppola, Maya Deren, Stevie Nicks, Madonna, Claire Denis, Jane Campion, Rachel Maclean, Sofonisba Anguissola, Artemisia Gentileschi, Vivane Sassen, Sophie Calle, Es Devlin, Cindy Sherman, Jane Austen, Edith Hamilton, Elizabeth Vigée LeBrun, Louise Brooks, Clarissa Pinkola Estes, Isabel Allende, Patti Smith, Mary Oliver, Tarsila do Amaral, Leonora Carrington, Elizabeth Price. Mais uma vez, eu poderia continuar para sempre.

GdM: Um programa.

SD: Myths & Monsters da Netflix. E Great British Baking Show.


GdM: Algo para ler.

SD: Comecei a Odisseia de Penelope de Margaret Atwood, ontem a noite, e já estou quase no fim. É incrível. Além disso, Zorba, O Grego. E A Insustentável Leveza do Ser de Milan Kundera.

GdM: Algo para escutar.

SD: De música, vai de Madman Across the Water, do Elton John. De álbum, vai de How to Be a Human Being, da Glass Animals.

GdM: Algo para assistir.

SD: A Cor da Romã. É um filme incrível e nem todo mundo conhece.


GdM: Provincetown International Film Festival está chegando. Conte-nos mais sobre ele.


SD: Eu amo o PIFF. É um dos meus festivais de cinema preferidos. Meu filme Self Creation na verdade vai estar lá esse ano, o que me deixa muito animada. Provincetown é a colônia de artistas mais antiga dos EUA, e é bem na ponta de Cape Cod. O festival não tem a pretenção que muitos outros festivais conhecidos nos EUA têm. Todos andam de bike pela cidade, John Waters mora lá o ano todo então ele está sempre fazendo festas e indo ver os filmes. O festival também recebe o Women’s Media Summint todo ano, e há uma população gigante de artistas e LGBTQs, então a sensação é de um lugar muito aberto e seguro. Eles expandiram o programa Next Wave Award Program, que é onde o meu filme estará incluso. O programa mostra cineastas com curtas e longas no Festival, e cineastas explorando outras disciplinas como meio para aguçar suas proezas.


GdM: Por último, nos conte sobre algum projeto secreto que está por vir.


SD: Estou gravando um filme no fim desse verão que é sobre a natureza performativa da interação humana. É uma peça que utiliza muitas flores e abstrações visuais contínuas dos corpos dos atores. Estou muito animada!




Sua fotografia foi exibida e publicada internacionalmente, e seus curtas foram mostrados nos EUA e no exterior. Seu trabalho agora está sendo exposto na galeria M.A.D. em Milão, onde ficará até novembro de 2019. Logo, em junho, outro de seus curtas será incluído na programação do Festival de Cinema Internacional de Provincetown, Massachusetts.


 


Imagens cedidas pela artista

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